Eu te amo, muito, muito e sempre te amarei. Mas eu não gosto mais de você.

Li essa frase a primeira vez em um dos livros que estão no ranking dos meus favoritos. Para muitos essa frase não faz sentido, já para mim, explica minha situação paterna.

O sonho de toda criança, adolescente e até adultos é ter aqueles pais corujas, que te apoiam que são amigos, que são heróis, exemplos e porto seguro. Quando criança eu me imagina naqueles jardins de casas de filmes e eu estaria correndo brincando com a minha mãe e para me proteger fugiria para os braços do meu pai. Maaaas todos sabemos que essa realidade hollywoodiana não existe.

Nunca fui “próxima” do meu pai. Fui criada para ter uma relação de respeito com ele. Obedecer e obedecer era a regra geral. Fui criada para ir dormir quando ele chegava bêbado em casa, para desligar a tv quando ele estivesse dormindo, para acompanhar a minha mãe nas suas aventuras de bares em bares para saber onde ele estava e para ficar calada quando ele ficava nervoso para não piorar a situação.

É obvio que a vida de ninguém é perfeita, e não culpo nem Deus nem o universo por ter crescido assim. Pois são esses fatores que me fazem enfrentar a vida ultimamente. Mas pai, como diz a sociedade e o dicionário eu nunca tive.

Minha mãe sempre diz: pai é pai mesmo você não querendo. Concordo em tese, primeiro porque o nome dele vai constar nos meus documentos, segundo porque eu carrego o sobrenome da família dele, mas terceiro eu não sou obrigada a gostar dele.

Claro que eu me lembro de quando ele me apoiou quando eu quis trocar de faculdade, quando eu me mudei pra outro país, quando eu assistia jogos de futebol com ele, quando ele me ensinou a nadar e quando discutíamos política.

Mas eu me lembro também de correr e me esconder no banheiro com medo de apanhar dele, de defender minha mãe quando ele a humilhava, de ser expulsa de casa 127273283 vezes e dele me dizer: te adoro e não eu te amo.

Pai, obrigada por tudo, mas a pessoa a qual você criou te ama, mas ela não gosta mais de você.