Aquela que foi embora...
- Talita Vital
- 30 de dez. de 2016
- 2 min de leitura

Todos os dias começavam com a minha irmã mais velha perguntando se a roupa estava legal para mais um dia de trabalho, e em seguida eu recebia inúmeras lambidas dos meus dois cachorros que dormiam comigo, como o intuito de dizer: boooom dia!
Acordar daquela maneira era tudo pra mim, fazer meu próprio café da manha e brincar com os cães, era a melhor parte do dia. Eu me sentia independente e amada de uma maneira incondicional, e esses momentos faziam da minha casa um lugar de descanso, de privacidade, de alegria, de conversas, de brigas, gritos, era o lugar onde eu não temia as fortes tempestades... Era o lugar onde eu podia ser quem eu sou.
Entretanto, decidi seguir meu sonho,como qualquer adulto que almeja o “ser alguém na vida” e sai de casa por causa da faculdade, troquei-a por um pequeno quarto em um pequeno apartamento que dividia com pessoas estranhas. E na primeira semana, descobri que minha casa era meu lugar favorito.
Só visitava minha casa e minha família um final de semana por mês, e agora meu antigo quarto era vazio, frio e não cheirava mais aquele odor típico de cachorro, mas sim, lavanda industrializada de materiais de limpeza. A cama é a da minha irmã que agora dorme em uma cama de casal, meu travesseiro e guarda roupa ainda marcam sua ausência, um enfeitando e outro na tintura do quarto. Até a porta que continha meu nome, hoje não identifica o meu quarto na casa, mas sim um quarto qualquer destinado a “hospedes”. Somente a estante de livros e o mensageiro de vento revelam que um dia eu morei ali.
Era isso que eu era agora, uma hospede em minha própria casa. Nada ali era como antes, minhas noites não tinham mais a companhia dos cachorros, as manhãs não eram regada de úmidos “booom dia” e minha irmã nem se importava em pedir minha opinião sobre o look. Além da estranheza de sentar para almoçar e não reconhecer mais as pessoas a minha frente e lado e desconhecer os assuntos que eles comentavam. Tudo isso me fazia sentir culpada por algo que é só mais uma conseqüência da distância.
Pena que meu eu - hospede não percebeu isso antes, eu achava que quando voltasse pra casa à saudade seria tanta que todos reivindicariam minha atenção e presença, não imaginava que com o passar do tempo minha ausência se adequaria ao repertório e as pessoas se acostumassem com as rápidas visitas mensais.
Ainda bem que agora meu eu - hospede sabe que isso não vai mudar, que aquele lugar que eu chamava de casa não será mais a minha casa e que aquelas pessoas não mudaram, quem mudou foi eu. E eu sei que dói não olhar para trás toda vez que vou embora, mas sei que dói mais ainda olhar e me imaginar novamente ali, então em toda despedida me convenço de que as mudanças são necessárias e que com o passar do tempo também me adaptarei com os adeuses e beijos de despedidas.
Comments